não, meu coração não é maior que o mundo.
é muito menor.
nele não cabem nem as minhas dores.
por isso gosto tanto de me contar.
por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
preciso de todos.
sim, meu coração é muito pequeno.
só agora vejo que nele não cabem os homens.
os homens estão cá fora, estão na rua.
a rua é enorme. maior, muito maior do que eu esperava.
mas também a rua não cabe todos os homens.
a rua é menor que o mundo.
o mundo é grande.
tu sabes como é grande o mundo.
conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
(...)
meu coração não sabe.
estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)
outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
nunca escutei voz de gente.
em verdade sou muito pobre.
(...)
então, meu coração também pode crescer.
entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
- ó vida futura! nós te criaremos!
carlos drummond de andrade
[para os que procuram entender o pequeno-grande-inexistente-incoerente-coração de um escorpiano. não sei se vale a pena habitar nele. até porque os homens estão na rua e meu coração é pequeno...]
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