sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Unhas

Sempre me foi muito caro o fato de ter parado de roer unhas. Imagina: desde que as tenho, eu as colocava na boca e arrancava meticulosamente seus pedacinhos. Aos 14 anos, decidi mudar. Comecei a não comê-las. Sim, de um dia pro outro. Parei! Como quem para de fumar.

Como todo viciado, parei do nada, depois de tentativas frustradas com vários artifícios. Ameças de úlceras no estômago, pimenta (o que, eu acho, me trouxe o gosto por um pouquinho dela na comida), esmaltes com gostos terríveis (depois de uns dias os comendo juntamente com as unhas, os gostos eram, por fim, agradáveis). Enfim, parei como quem desaprende um vício.

A verdade é que vivo uma mentira. Todo o narrado acima é uma ilusão criada para que eu, no fundo da minha alma orgulhosa, pudesse dizer que tinha me livrado de um vício sujo e feio (principalmente para meninas, que devem ter unhas lindas, grandes, coisas de que nunca fui capaz). Sim, eu não rôo minhas unhas como antigamente, com aquele ardor e furor, como quem gosta de tirar pedaços de si com um pouco de sangue (um pouco, sangue me assusta). Mas, sendo pressionada, irritada, sentindo-me cansada, acabo por dar cabo delas.
O modo de disfarçar e de controlar é cortá-las bem curtas. Daí, eu digo: "Não sei, elas simplesmente não crescem, por isso deixo assim: curtas". Mentira! Elas são tão meninamente curtas para não haver tentação de tirar os pedaços, já que eles não existem. E, quando realmente há a vontade incontrolável de praticamente comê-las (eu não engulo mais... fico mordendo seus pedacinhos até cuspi-los), pego leve. Só lasquinhas, que não fazem falta a ninguém.
No entanto, se perguntam... Parei de roer unhas há muito tempo. elas são curtinhas assim porque são muito fracas e não crescem. Roer unhas? Credo! Hábito mais feio....